Equipe de defensoras, servidoras e servidores com participantes da roda de conversa no Quilombo Furnas da Boa Sorte.
Texto: Carla Gavilan
Mulheres adolescentes, jovens, gestantes, puérperas e idosas do Quilombo Furnas do Boa Sorte receberam o Núcleo de Defesa dos Direitos das Mulheres da Defensoria Pública de MS (Nudem), nesse sábado.
O encontro aconteceu no espaço de convivência da comunidade, localizada a 24 km da sede do município de Corguinho e a aproximadamente 130 km de Campo Grande.
Resumo da notícia feito com Inteligência Artificial (IA), editado por humano: O Núcleo de Defesa dos Direitos das Mulheres (Nudem) da Defensoria Pública de MS realizou uma roda de conversa no Quilombo Furnas do Boa Sorte, em Corguinho, como parte da programação do "Julho das Pretas". O evento reuniu mulheres de diferentes idades para dialogar sobre direitos, racismo e violências enfrentadas pelas mulheres negras. A atividade contou com dinâmicas, palestras, atendimentos individuais e distribuição de materiais educativos.
A coordenadora do Nudem, defensora pública Kricilaine Oliveira Souza Oksman, explica que a roda de conversa foi organizada em parceria com a associação do Quiolombo como parte da programação das atividades do Julho das Pretas, que celebra a data do 25 de julho como o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra e o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha.
Coordenadora do Nudem, defensora pública Kricilaine Oksman.
“Planejamos esse evento com muito carinho, com a proposta de dar visibilidade à resistência e à luta dessas mulheres negras, e também trabalhar o enfrentamento ao racismo. Foi um evento surpreendente, porque embora tenha sido voltado para mulheres, alguns homens participaram, e foi muito bom. Todas as participantes são extremamente acolhedoras”, contou.
Assessora legislativa da Defensoria, Katia Motti, com jovem participante da roda de conversa.
A equipe Defensoria Pública de MS foi recepcionada por Elaine Mateus Teodoro, uma das lideranças do quilombo.
Elaine Mateus Teodoro, assistente social e pedagoga, líder da comunidade.
“Ficamos muito felizes com a visita da Defensoria, porque são ações que contribuem e fortalecem as comunidades quilombolas por trazerem informações sobre os nossos direitos. A falta de informação prejudica muito e nos deixa em situações difíceis. A Defensoria aqui hoje é muito importante para nós e estamos à disposição para outros eventos”, afirmou a assistente social e pedagoga.
Elaine durante a Roda de Conversa.
"A falta de informação prejudica muito e nos deixa em situações difíceis", destacou a liderança.
Roda de conversa
Evento teve participação de defensoras, servidoras e servidores da Defensoria Pública de MS.
A programação no Quilombo Furnas do Boa Sorte teve início com a apresentação das defensoras públicas e toda equipe técnica da instituição, seguida de uma dinâmica promovida pela psicóloga do Nudem, Keila de Oliveira Antônio.
Psicóloga do Nudem, Keila de Oliveira Antônio.
“Destacamos aqui nesse mural as principais palavras que vocês disseram durante a atividade para que possamos ver, em conjunto, a forma que vocês se enxergam, pois, e o quanto são importantes umas para as outras”, ressaltou a psicóloga em um dos momentos.
Programação do evento realizou palestras e dinâmicas com mulheres quilombolas.
Na sequência, a defensora pública de Defesa da Mulher Camila Maués dos Santos Flausino, conversou com as participantes sobre as diversas formas de discriminação vivenciadas por mulheres negras.
Defensora pública de Defesa da Mulher, Camila Maués.
“Você é tímida ou foi silenciada por muito tempo?”, indagou a defensora na palestra.
Roda de Conversa aconteceu nesse sábado (19/07).
“É muito importante a Defensoria Pública estar presente no Quilombo da Boa Sorte, assim como em todos os 22 quilombos existentes em Mato Grosso do Sul, para que possamos ouvir as comunidades e estabelecer um diálogo maior. Esse é o nosso intuito aqui hoje”, disse a defensora pública, que também fez conversas individuais com algumas moradoras.
Comunidade
A Comunidade Furnas da Boa Sorte é uma comunidade negra descendente de quilombo, localizada às margens do Córrego Boa Sorte, em Corguinho. De acordo com a associação de moradoras e moradores, as 70 famílias que residem atualmente no quilombo formam a sexta geração de parentes das primeiras pessoas que chegaram no local no final do século XIX.
Senhor Adão Lino Maria relatou abusos sofridos por mulheres quilombolas.
Entre essas pessoas, está João Bonifácio Lino, bisavô do senhor Adão Lino Maria, de 82 anos, que participou da roda de conversa com a Defensoria Pública de MS, nesse sábado, e relatou que seus antecedentes eram pessoas escravizadas em Minas Gerais e que fugiram em busca de liberdade para Mato Grosso do Sul.
“Meu bisavô veio com minha bisavó Florença e mais três famílias, todas fugidas que são hoje os descendentes da Tia Eva e do Furnas Dionísio, e aqui ele fundou nosso quilombo da Boa Sorte, inspirado nesse morro que temos até hoje”, conta o aposentado apontando para a rica paisagem natural que cerca a comunidade.
As famílias que moram hoje no quilombo são descendentes dos quatro filhos de João Bonifácio e Dona Florença.
Adão Lino comentou sobre o longo processo de violência que as mulheres de sua família sofreram ao longo dos anos, mesmo livre dos “senhores de escravos”.
Senhor Adão Lino (de chapéu) durante o evento da Defensoria Pública de MS no Quilombo Furnas da Boa Sorte.
“Ainda aqui minhas tias, primas, conhecidas todas eram estupradas por capangas e capatazes que assombravam nossa região. Ao mesmo tempo que fugimos do trabalho escravo, as mulheres não eram respeitadas, apanhavam, sofriam abusos de todos os tipos e isso é uma ferida aberta em nossa memória”, diz o líder entristecido, mas muito feliz com a presença das defensoras públicas falando a respeito do tema com as moradoras.
As famílias do quilombo sobrevivem, basicamente, da agricultura de subsistência, com cultivo de milho, mandioca, criação de animais e produção de artesanato, a partir da matéria-prima local.
Roda de Conversa destacou os tipos de violência contra a mulher e formas de atendimento da Defensoria Pública de MS.
Conforme relatos das lideranças, assim como diversas comunidades tradicionais de Mato Grosso do Sul, o Quilombo Furnas da Boa Sorte também sofre com a pressão da especulação imobiliária na região, potencializada por projetos excêntricos na área do ecoturismo e com a apropriação de reservas naturais.
Mulheres
Assistente social do Nudem, Isabela Alves, com Dona Ludovina Mateus.
Dona Ludovina Mateus Teodoro, de 73 anos, foi uma das mulheres que participou da roda de conversa do início ao fim. “Eu gostei muito, porque reuniu todas nós aqui para falarmos e sermos ouvidas. Recebemos muitas informações que não sabíamos, e isso deixa a gente em alerta”, observa.
A coordenação do núcleo também apresentou vídeos institucionais e distribuiu materiais educativos.
Ana Luiza Catarina com material educativo e informativo do Nudem.
“Achei muito importante tudo que falaram sobre sermos mulheres. Gostei dessa cartilha que trouxeram, para poder ler mais depois e mostrar na escola”, disse a estudante Ana Luiza Catarina Félix, de 13 anos.
Participaram, também, do evento, a assessora do Nudem, Amélia Prado; a assessora jurídica Thaiany Pedreira; a assistente social, Isabela Alves; e estagiária, Geovana Pereira.