Danielle Valentim
O segundo dia do 1º Congresso Pelo Parto Humanizado da Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul, por meio do Núcleo Institucional de Promoção e Defesa da Mulher (Nudem) e a Escola Superior (ESDP), contou com quatro painéis de debate.
No formato híbrido, o auditório da Escola Superior permaneceu presencialmente ocupado e mais de duas mil pessoas acompanharam pelo canal do YouTube.
Após a abertura do dia 4 de agosto, o primeiro painel do segundo dia teve como debatedoras a defensora pública Andreia Nardon, de Jardim, e a professora Kaelly Virgínia Saraiva, vice-coordenadora do Programa de Residência de Enfermagem Obstétrica da UFMS.
“Temos de levar informação e alertar não só as mulheres, mas também todas as pessoas que trabalham nesse sistema de saúde, para que elas se reconheçam trabalhando errado ou prejudicando as pessoas e mudem essas práticas", pontuou a defensora Andreia Nardon.
Na palestra “Violação dos Direitos das Mulheres na Atenção ao Parto e Nascimento”, Valéria Eunice, a missionária do parto respeitoso e diretora estratégica do Coletivo Nacional de Advogadas Nascer Direito, lembrou da proibição do acompanhante durante a pandemia e que a primeira decisão do Brasil, para que as mulheres não tivessem parto solitário, foi contra a Maternidade Cândido Mariano.
"Nós não temos estatuto do nascimento ou legislação única como o Código Civil, então, comecei a estudar para dar respaldo às vozes dessas mulheres", disse a palestrante.
Professora Kaelly, que também é cantora lírica, interpretou um trecho de uma canção que é murmurada durante partos. "Este é um tema extremante complexo e delicado para falar em poucos minutos. Nós, como enfermeiras obstétricas, também sofremos assédio moral e expulsão de salas de parto por defender o parto humanizado, então, cantamos para exprimir nossa dor, que também é uma dor ancestral”, pontuou a professora Kaely.
A mesa do segundo painel teve a participação da enfermeira obstétrica Karine Jarcem e da coordenadora do Nudem, defensora pública Thais Dominato.
O coletivo Mães de Bonito, representado, no evento, pela defensora pública Thaís Roque Sagin, Kamila Drielli e Aja Bryant, apresentou a palestra “Fortalecendo os movimentos de mulheres para o combate à violência obstétrica”.
"É uma apresentação coletiva, porque foi um trabalho em conjunto desde a zero hora. Essa apresentação traz a todas e todos como um evento que aconteceu em Bonito em 2017 e se tornou a assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta em 2022”, iniciou a defensora pública.
A norte-americana Aja Bryant, formada em Ciências Sociais, destacou o quanto o coletivo de mulheres gerou resultado. “Comecei a fazer esse trabalho com o coletivo em 2019 e esta foi a primeira vez que me senti em um ativismo saudável e com bons resultado", pontuou Aja.
Em sua fala, a bióloga, escritora e colunista Kamila traduziu a maternidade como um nascimento. “A gente não tem um filho, a gente nasce com um filho”, frisou.
A participação virtual de mulheres de Bonito que sofreram violência obstétrica e são parte do TAC instaurado em Bonito, abriu o terceiro painel.
A mesa de debate foi composta pela defensora pública Thaísa Defante, que ressaltou o quanto a educação em direitos transforma mulheres e as encoraja a denunciar. "A partir do reconhecimento do direito, do reconhecimento da violência, de como é e como deveria ser, é que a gente consegue mudar a realidade", frisou.
Com o tema “O ensino e a prática da Obstetrícia para uma nova forma de nascer”, o médico obstetra do Hospital Sofia Feldman, Edson Borges, que também é consultor da Fiocruz, pontuou os posicionamentos oficiais de entidades médicas que são contra o termo "violência obstétrica".
"Acredita-se que se trata de uma conotação inadequada, porque violência teria de ter uso intencional da força. O personagem Eduard Mãos de Tesoura era uma pessoa boa de coração, não tinha intenção de causar danos, mas causava dano por onde passava. Então, dizer que a violência depende da intenção é um argumento completamente equivocado", iniciou o médico.
A mesa debatedora do quarto painel foi formada pela defensora pública Edmeiry Silara Broch Festi. “O Nudem iniciou essa discussão em 2013 e todas as apresentações nos trouxeram a certeza de que realmente as ações positivas implementam direitos e nos trazem esperança de que é possível, sim, unirmos força”, pontuou.
Para falar sobre “Como promover experiências positivas de parto”, o congresso recebeu a fisioterapeuta Ângela Amanda Nunes Rios, que é coordenadora do Grupo da sociedade civil de Apoio ao Parto Humanizado, Doutora em Saúde Pública.
"Ainda estamos em uma crescente de cesarianas. Em 2021, 63% dos nascimentos em MS foram por cesariana. A gente não quer evitar a cesariana, mas uma taxa alta quer dizer que não estamos dando conta do processo fisiológico, além das comorbidades associadas", iniciou a palestrante.
Confira o segundo dia de congresso AQUI.