Texto: Danielle Valentim e Guilherme Henri
Os desafios de conciliar a maternidade e a carreira de defensora pública foram destaque em uma reportagem especial do portal de notícias e redes sociais do Midiamax. Confira na íntegra a divulgação sobre a vivência de cinco defensoras públicas de MS para o mês das mães.
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Mudança, maternidade em dose tripla e a realização do sonho de defender quem precisa
Conciliar a carreira com a maternidade por si só não é um trabalho fácil, mas para a defensora pública substituta Karina Figueiredo Freitas, 37 anos, essa tarefa ganhou um certo “plus” quando precisou largar toda a vida que conhecia no interior do estado de SP para assumir o cargo em Mato Grosso do Sul, em 2020.
“Ainda no estado de SP tive a minha primeira filha. Os estudos foram prejudicados, pois me dedicava aos seus cuidados integralmente. Quando ela cresceu um pouco procurei ajuda para voltar aos estudos e conquistar a carreira que sempre admirei, a da defensoria pública. Quando ela tinha quase dois anos fui chamada para a DPE/MS e aí começaram os desafios de conciliar a profissão e a maternidade junto à mudança de Estado”, conta a defensora.
A nova rotina inclui muita dedicação na Defensoria, audiências quase todos os dias, muita demanda dos assistidos e processos a manifestar. No interior do Estado, em Caarapó, Karina foi mãe novamente: de gêmeos.
"Ao término de todos os dias de expediente entro na outra função: a da maternidade. A demanda agora é de presença, de brincadeiras, de carinho e de cuidados. A conciliação entre os dois é desafiadora, mas a maternidade me dá forças para trabalhar com afinco. O desafio é achar o equilíbrio", afirma.
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Meu filho me realizou como pessoa e a Defensoria como mulher
Maritza Brandão seguiu os passos da mãe Olga Brandão, e se tornou defensora pública em 2004. De lá para cá, passou pelas comarcas de Pedro Gomes, Costa Rica, Aquidauana e Campo Grande, onde atua há nove anos, na Defensoria Criminal, área que sempre desejou.
Foi em Costa Rica que Maritza descobriu a maternidade e pediu remoção para a cidade de Aquidauana para seguir com a gestação. Nesse processo muita coisa mudou e quando José Henrique completou dois anos, seu casamento chegou ao fim.
Ela conta que foi uma fase muito difícil, mas que desde, então, o papel de mãe solo moldou e transformou sua visão de mundo. Com quase duas décadas de serviço à Instituição, Maritza equipara a grandiosidade entre maternar e defensorar.
“Perdi meu pai aos 18 anos, mas por ser filha de uma mulher muito forte e também defensora pública, sempre ouvi que nossa família tinha mais que a dos assistidos e assistidas e, por essa razão, nos atendimentos via o quanto eles dependiam de mim, dependiam do meu trabalho para que a dignidade fosse a eles devolvida. Quando me vi mãe solo, longe de toda a família enfrentei uma fase muito difícil, às vezes esperava meu filho dormir, para chorar. Mas me tornei forte e tive uma mudança de pensamento de vida. Costumo dizer que meu filho me realizou como pessoa, mas a Defensoria me realizou como mulher”, pontuou.
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Defensora, mãe e o coração de quem carrega uma saudade constante
Defensora pública de Segunda Instância, Mônica Maria de Salvo Fontoura realizou o sonho de ser mãe de Isabella, 21 anos. O que ela não imaginava é que precisaria encontrar um equilíbrio entre o árduo trabalho com os Tribunais Superiores, a felicidade em ver a filha vivendo no exterior com uma saudade arrebatadora.
Na instituição desde 1996, a defensora passou por diversas comarcas do interior do Estado, mas foi só quando chegou em Campo Grande que precisaria encarar um dos maiores desafios de sua vida: equilibrar a maternidade com o defensorar.
“Na época eu era defensora pública da execução penal e também responsável, com mais uma colega, por ir em todas as unidades penais da Capital semanalmente. Ainda grávida de 8 meses, cheguei a atender as pessoas em situação de cárcere na ala de saúde do Estabelecimento de Segurança Máxima. Mas, costumo dizer que Deus tem um olhar especial com as mães, pois como sabia dessa penosa rotina, me presenteou com uma filha extremamente compreensível, do seu comportamento de bebê até a vida adulta”, detalhou a defensora.
Aos 16 anos, Isabella decidiu morar nos Estados Unidos onde começaria a trilhar sua própria história: a de ser uma engenheira aeroespacial graduada em uma das melhores faculdades da área do mundo.
“Ser mãe é abrir mão de sua própria felicidade para ver a do seu filho. Hoje, Isabella vive uma vida plena e muito feliz, pois está conquistando tudo o que desde menina sonhava. A saudade de não a ter por perto é diária, mas vê-la sorrir é tudo o que eu preciso para ser feliz. Como defensora pública tenho a oportunidade de defender outras mães que passam por inúmeros conflitos e, por esse motivo e por ser mãe da Isabella, sou extremamente grata a Deus”, disse.
Não se tratam de processos, mas de vidas
Do concurso de 1991, a defensora pública de Segunda Instância Christiane Maria dos Santos Pereira Jucá Interlando conduz uma longa história na Instituição. Como toda mãe que trabalha fora, as dificuldades foram inúmeras, principalmente, por conciliar os cuidados com as filhas ao lado da significativa demanda de atendimentos na Defensoria Pública.
Em sua trajetória, Christiane atuou por Porto Murtinho Inocência, Cassilândia, Maracaju e, atualmente, atua na Segunda Instância com a representação dos assistidos e assistidas no Superior Tribunal de Justiça (STJ) e Supremo Tribunal Federal (STF).
Foi em Maracaju que a saga da maternidade teve início, com o nascimento de Rafaela. A rede de apoio familiar foi a base para que a distância entre o município e Campo Grande encurtasse. Enquanto atuava no interior, o marido e a mãe cuidavam da filha na Capital.
Já em Campo Grande, Christiane deu à luz a Bruna, sua segunda filha, que com apenas três dias de vida precisou passar por uma cirurgia. Com o fim da licença maternidade, a defensora teve de retomar os trabalhos e, mais uma vez, a rede de apoio se fez presente.
Pela perda acentuada de peso, a amamentação foi essencial e, diante de um turno triplo na Instituição, tendo em vista o trabalho no atendimento diurno e Juizado Especial no período noturno, o marido e a avó eram os responsáveis por levar a bebê até a unidade para amamentar.
Hoje, as filhas têm 26 e 21 anos, e entre tantas atribulações as alegrias se sobrepõem. A defensora destaca que durante as últimas três décadas se viu mãe de muitas crianças, se colocou no lugar de muitas genitoras e, acima de tudo, constatou que não se tratam de processos, mas de vidas.
“Durante toda essa jornada me vi mãe em muitas situações, principalmente, quando atuei na Vara da Infância. Eu levava aqueles rostinhos para casa. Por muitas vezes, nas férias, não desligava automaticamente, simplesmente, pelo fato de vivenciar todas aquelas situações. E quanto às mães, é impossível não as entender e sofrer com elas. Uma das coisas muitas felizes da minha carreira foi participar do HC coletivo no STF que concedeu a presas provisórias do país, gestantes ou mães de crianças e pessoas com deficiência sob sua guarda, a prisão domiciliar”, pontuou.
Minha filha nasceu com 2 anos e me fez renascer
Na carreira de defensora pública desde 2009, Patrícia Feitosa de Lima já passou pelas comarcas de Angélica, Ivinhema, Água Clara, Ponta Porã e, desde 2017, em Campo Grande.
Atuando na defesa do consumidor, Patrícia acredita no equilíbrio entre os papéis sociais, e assim segue conciliando a maternagem com o defensorar. A defensora pública conta que teve o privilégio de nascer em uma família cercada de amor e que a adoção sempre foi tratada com a naturalidade que tem.
Em 2017, tomou a decisão que a faria renascer: adotar uma criança. Patrícia fez um curso durante dois meses. Neste período, teve mais certeza ainda que adotaria uma criança, tanto que deixou toda a sua casa preparada e não colocou preferências como etnia em seu cadastro.
O destino fez o seu papel. A defensora pública terminou o curso justamente no dia do seu aniversário, em agosto, data também que devidamente foi habilitada a adotar uma criança.
Em maio de 2018, ela recebeu a ligação que mudaria a sua vida: “temos uma criança com seu perfil”. Era o nascimento da sua filha Maria Nayara, na época com 2 anos, 6 meses e 20 dias.
“Parece que sempre esteve comigo. Temos uma vida toda pela frente para construir memórias afetivas, e é nisso que me esforço todos os dias. Como defensora e mãe tenho me esforçado para ser, em cada momento, o papel que de mim se espera. É claro que a sensação de culpa porque, às vezes, atraso para buscar a filha na escola porque estou em uma audiência que atrasou. Mas, tenho desenvolvido ao longo da minha maternagem que a culpa não será minha conselheira, apenas me impulsiona para criar alternativas que garantam que o tempo que estou com minha filha sou 100% dela. Por outro lado, no trabalho, meu esforço é ter uma escuta ativa e ser o mais eficiente possível para que a profissional permaneça no espaço de trabalho quando, depois do expediente, estou com minha família”, explica.