O Núcleo Institucional de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher da Defensoria Pública de Mato Grosso do Sul (NUDEM), que tem como função primordial o atendimento das mulheres em situação de violência de gênero, repudia as palavras proferidas pelo vereador Wellington de Oliveira durante seu pronunciamento na Câmara de Vereadores de Campo Grande no último dia 7 de abril.
Conforme amplamente noticiado pela imprensa, o vereador, ao defender a necessidade de reabertura de estabelecimentos, mesmo durante a pandemia, mencionou que os salões de beleza e as igrejas seriam serviços essenciais, exemplificando que marido nenhum aguenta mulher que não cuida das sobrancelhas, unhas e cabelos e que templo religioso fechado poderia ser entendido como um sinal de Deus para homens matarem suas companheiras e filhos.
Imperioso ressaltar que levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, realizado antes do estado de calamidade provocado pelo novo coronavírus, revelou que 42% das agressões contra as mulheres no Brasil acontecem no âmbito doméstico e, portanto, se antes ficar em casa já não era seguro, atualmente, o mundo todo tem se preocupado porque a necessidade (e não opção) de isolamento social significa mais tempo com o agressor e, como consequência, mais violência doméstica.
Note-se que o aumento dos índices de violência contra a mulher já foi percebido como resultado da quarentena em países como a China e o Reino Unido e que várias entidades nacionais e internacionais denunciaram tal fato e propuseram intervenções das políticas públicas para o enfrentamento dessa problemática.(http://www.onumulheres.org.br/noticias/violencia-contra-as-mulheres-e-meninas-e-pandemia-das-sombras-afirma-diretora-executiva-da-onu-mulheres/ acesso em 07/04/20)
O NUDEM entende que as manifestações do vereador em nada contribuem na luta pela busca da equidade de gênero. Ao contrário, atrapalham. Servem para reforçar estereótipos, objetificar a mulher e reduzi-la à condição de propriedade do homem, sem liberdade para sequer escolher suas preferências estéticas.
Além disso, são manifestações que servem para justificar violação de direitos humanos, tirando o foco do machismo como o responsável pelo feminicídio. O fato de uma igreja estar fechada para impedir a propagação de doença jamais será o motivo da violência contra a mulher que tem suas raízes fincadas nas desigualdades e na cultura patriarcal.
Assim, diante dos comentários equivocados, graves e que se tornam devastadores em razão do momento difícil que as mulheres enfrentam, o NUDEM solicita providências à Câmara de Vereadores de Campo Grande para que não sejam mais admitidas na tribuna manifestações que desconsiderem a condição da mulher como sujeito de direitos, bem como solicita a retratação por parte do vereador Wellington de Oliveira.